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sábado, 11 de maio de 2013

Das minhas memórias



A memória é algo incrível. Ontem, enquanto ia no ônibus, recordava uma reflexão que fiz aos 14, 15 anos sobre a vida.

Na minha meninice, visualizei uma sala totalmente fechada, sem portas, sem frestas e apenas com uma pequena janela lá no alto, próxima ao teto.

Eu era um quadrado no centro da sala, olhando para o alto, sonhando alcançar aquela pequena janela, para então ser plena do lado de fora. Como um quadrado poderia alcançar aquela altura, se não havia nada na sala para ajudá-lo?

Foi então que percebi que tudo o que havia alí (na minha vida) vinha de dentro de mim, inclusive a solução para aquele dilema.

Comecei então a me lançar contra as paredes, me chocando contra aquilo o que eu julgava opressor. E quanto mais me lançava, mais via necessidade de me lançar.

Primeiro as quinas do quadrado foram quebrando, as arestas sendo arrancadas, polidas pelo choque com  chão e as paredes.

Aquilo doía, era bem desconfortável, mas eu parecia saber o que estava fazendo. Era como se eu fosse uma expectadora, mas soubesse que aquele quadrado era eu.

E me lançava e perdia as arestas, fiquei sem forma e já não lembrava um quadrado, mas rolava com certa facilidade e os choques não precisavam mais ser violentos. Eu estava arredondando.

E assim, com a perseverança e sutileza de quem sabia o que queria, eu me vi mudar de forma, até me tornar uma esfera. Parece que a substância que formava a superfície do quadrado era sólida e quebradiça, mas o núcleo dele, era leve e liso como uma bola de borracha.

Quando finalmente cheguei neste formato, comecei a quicar no centro da sala, cada vez mais alto. O alvo continuava sendo a janela no alto da sala e a esperança de encontrar plenitude do outro lado.

Achei graça me lembrando dessas coisas, mas hoje vi sentido nelas. Era uma das primeiras revelações que meu espírito assimilou, apesar de nada saber sobre a caminhada cristã.

Para alcançar o alvo, é preciso mudar de formato, é preciso eliminar aquela capa quebradiça e o impulso vem de dentro. Nada do lado de fora pode fazer isso por nós. São nossas tentativas, atritos e perseverança que farão as mudanças necessárias. Um quadrado inerte, jamais deixaria de ser um quadrado inerte.

Hoje eu seria aquela esfera de borracha, saltando e quicando cada vez mais alto, próxima, bem próxima da janela. Perto de descobrir o outro lado, onde a promessa se cumpre e todo anseio é suprido.

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